Paulo César Santos, de 50 anos, afirma que família contraiu Covid-19 entre dezembro e janeiro, mas que a filha caçula, vítima da síndrome, não chegou a fazer o teste na época. Óbito ocorreu em 24 de fevereiro, após falência de órgãos.
“Era uma criança saudável, uma criança espontânea. Se ela não tivesse contraído o coronavírus, ela não teria morrido. […] Se importem. Porque infelizmente está aumentando os casos sobre crianças.”
O alerta é do pai da adolescente de 13 anos que morreu no fim do mês passado em Campinas (SP) de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica pós-Covid-19, uma condição rara que pode atingir crianças e jovens de até 19 anos. Foi o primeiro caso confirmado na metrópole.
Paulo César dos Santos, de 50 anos, trabalha como motorista. É casado e tem três filhos. Todos os integrantes da família pegaram coronavírus entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 e fizeram exames. A única exceção foi a caçula, Ana Clara Macedo Santos, que não apresentou sintomas. A família adotou os protocolos e se recuperou, sem gravidade.
Em meados de fevereiro, no entanto, após ter cólicas que não cessavam, Ana foi hospitalizada e descobriu, por exame de sangue, que teve contato com o vírus. Ela morreu em 24 de fevereiro com falência em múltiplos órgãos.
“Não sabíamos que existia a síndrome, ficamos sabendo pelo hospital”, diz o pai.
O infectologista pediátrico e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Marcelo Otsuka, explicou que a maioria das crianças não desenvolve sintomas ao ser infectada com o vírus. Se desenvolve, acaba sendo a forma mais leve da doença.
De acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas, a síndrome caracteriza-se por inflamações da parede dos vasos sanguíneos de órgãos como rins, articulações, sistema nervoso central e vias respiratórias.
Origem da infecção na adolescente
Ana era aluna do 8° ano da Escola Estadual Escritora Rachel de Queiroz, que fica no bairro Jardim Yeda. Segundo o pai, ela foi para a escola apenas um dia em fevereiro. “Por causa do revezamento que estavam fazendo. No início ia ser uma vez a cada 15 dias.”, afirma ele.
“Não tem como a gente precisar como foi a infecção por Covid. A gente não sabe dizer da onde. Segundo as informações médicas, na data do dia 24 [de fevereiro], ela podia ter contraído sete dias antes ou até seis meses atrás. Não culpei a volta às aulas. De repente, ela foi a transmissora para nós.”, explica o pai.
Sobre a possibilidade de a adolescente ter contraído o vírus na instituição de ensino, a Secretaria Estadual de Educação afirmou, em nota, que “não há qualquer indício de contaminação, tanto é que não houve nenhum caso confirmado de Covid-19”.
Dados do Ministério da Saúde mostram que o Brasil registrou, de 1º de abril do ano passado até 13 de fevereiro, 736 casos e 46 mortes de crianças e adolescentes pela SIM-P associada à Covid-19. No Estado de São Paulo, 120 casos foram identificados no período, sendo oito óbitos.
Síndrome x comorbidades
O atestado de óbito de Ana Clara cita, além da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica pós-Covid-19, infecção por coronavírus e obesidade.
O Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) esclareceu, em nota, que a “obesidade é considerada como comorbidade na medicina para qualquer tipo de doença”.
A família, no entanto, ressalta que a menina não tinha outras doenças. Ana Clara também praticava atividades físicas, como balé.
“Não tinha problema respiratório, nem pressão alta, coisas que podem vir com obesidade. Era uma criança saudável. Segundo a Vigilância Sanitária, foi um resultado da Covid. Ela não tinha doença nenhuma”, diz o pai.