Filho de uma paciente internada na unidade relatou que sua mãe recebeu a última dose de morfina injetável na tarde de quinta-feira
Devido à falta de medicamentos, o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, está intubando pacientes com covid-19 sem sedação. Segundo relato do filho de uma paciente que está internada no hospital, um médico contou que o procedimento de intubação está sendo realizado com pacientes acordados. “O cenário lá dentro é de pessoas intubadas e com os olhos abertos. Está faltando medicamento para todo mundo, não é só kit intubação. O estoque de morfina e remédios para sedação estão zerados. Eu estou indo na farmácia comprar alguns remédios para a minha mãe porque as enfermeiras me avisaram que o hospital não tem mais estoque”
A paciente em questão está internada há oito dias no HUPE, mas não está com covid-19. A mulher, que é paciente oncológica, espera uma cirurgia no fêmur após levar um tombo ao descer do carro na frente da unidade de saúde ao chegar para fazer um exame. Por causa do acidente, ela precisou ser internada até conseguir marcar a cirurgia. De acordo com o filho dela, o Hospital Pedro Ernesto não vai poder realizar a cirurgia por não ter mais morfina e outros medicamentos para o procedimento.
“Uma enfermeira me informou na tarde de ontem (quinta) que minha mãe estava recebendo a última dose injetável de morfina da unidade. No momento, o hospital só tem morfina em comprimido e mesmo assim estão guardando para usar somente em casos urgentes”, relatou.
Nesta sexta-feira, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, reconheceu que é baixo o estoque dos medicamentos sedativos e neuromusculares, o chamado ‘kit intubação’. Os hospitais têm feito remanejamento dos medicamentos – todos atuam com pouco estoque para que não falte em nenhum. Até mesmo os fármacos antes reservados para clínicas veterinárias estão sendo remanejados aos hospitais. Segundo Soranz, os hospitais da rede pública têm abastecimento para três dias.
O governo do estado do Rio afirmou, durante a semana, ter pedido um aditivo de 50% para que o Ministério da Saúde aumente o número de repasses. O painel de distribuição de medicamentos hospitalares do Ministério da Saúde aponta que a pasta fez um grande repasse entre julho e agosto de 2020 (260 mil medicamentos), primeira onda da pandemia. Esse número, no entanto, foi a quase zero no início do ano. Em fevereiro, a única distribuição do Ministério da Saúde foi de 200 unidades do Cloridrato de Cetamina, que serve para indução de anestesia. A distribuição de remédios voltou a subir em março (306 mil).