No dia 3 de novembro ocorreu um apagão no estado de Amapá ocasionando um apagão Garrafas de um litro de água, que normalmente custam cerca de 3 reais, sendo vendidas por até 35 reais. Essa é uma cena que se tornou comum em Macapá, uma das 13 cidades do Amapá que enfrentam um apagão de energia elétrica desde o dia 3 de novembro. Neste cenário, velas e hipoclorito de sódio tornaram-se itens de primeira necessidade. As velas, para iluminar as residências à noite. O hipoclorito, para “limpar” a água do rio Amazonas, que é consumida por alguns dos moradores que não conseguem retirar água dos poços artesianos ou bombeá-la para reservatórios de suas casas. O mesmo rio, conhecido na cidade como o Mar de Macapá, também serve de latrina para algumas das residências de palafitas que o cercam. A capital amapaense está vivendo dias “medievais”.
“Sem energia há tanto tempo, quase nada funciona. O que funciona é tecnologia medieval como vela para iluminar e carretilha com balde, para retirar água do poço”, diz a ecóloga Verena Almeida, que vive no bairro Laguinho. Os 370.000 moradores do município têm convivido com um rodízio de energia, que era para funcionar assim: metade dos bairros têm energia fornecida por três horas seguidas e o mesmo período sem. A outra metade, tem energia a cada quatro horas e fica outras quatro sem. Depois, revezam. Era para funcionar porque, na prática, não é o que tem ocorrido. “Hoje programei trabalho em home office para o horário que teria luz. Mas comecei uma reunião com luz, e 20 minutos depois, já não tinha”, afirma Almeida. À noite, nas ruas, um breu. Luzes apenas de faróis de carros.
O apagão em Macapá foi ocasionado por um incêndio em um transformador de uma subestação de energia da concessionária LMTE, que desde o início deste ano é controlada pela Gemini Energy. Antes, a responsabilidade era da empresa espanhola Isolux, que vendeu sua participação para a Gemini. A polícia investiga se o ato foi criminoso ou se foi uma falha. A hipótese inicial, de que um raio teria atingido o equipamento, foi descartada.
Por quatro dias, nenhuma das 13 cidades afetadas tinha qualquer fornecimento de luz. Esse isolamento gerou uma onda de protestos contra as autoridades locais. Já foram mais de 20, o último na tarde desta sexta-feira, que teve a participação de cerca de 200 pessoas em frente à sede do Governo do Estado. Boa parte das manifestações acabou com forte repressão da Polícia Militar, que usou balas de borracha para dispersar a multidão de determinados pontos da cidade. Também houve uma enxurrada de ações judiciais nas varas federais. Houve desde pessoas movendo ações de reparação de danos até aqueles que solicitavam o pagamento de auxílio emergencial e o adiamento da data das eleições municipais. Nos dois últimos casos, houve uma resposta positiva aos requerentes.
Como resposta à crise, o Governo Jair Bolsonaro enviou dois transformadores para a subest ação que havia sido atingida e criou um gabinete de crise para coordenar as ações. Por meio da Marinha, disponibilizou 31 militares da área de saúde para atender a população local e doou 143 cestas básicas para famílias vulneráveis socioeconomicamente. Até o momento, cerca de 70% do Estado teve o fornecimento de energia restabelecido, ainda que em esquema de rodízio, de acordo com o Governo.