Os brasileiros estão pagando cada vez mais para encher o tanque do carro. Em algumas cidades do país, o preço do litro da gasolina já passa dos R$ 7 – e se transformou num dos vilões da inflação deste ano, responsável por afetar duramente o orçamento das famílias brasileiras.
No acumulado deste ano até julho, o preço da gasolina já avançou 27,51%, enquanto o do diesel acumula alta de 25,78%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Nos postos do país, a escalada é evidente. Na semana passada, o levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostrou que o preço médio do litro da gasolina se aproximou de R$ 6. O diesel atingiu R$ 4,616 por litro.
Os preços cobrados nas bombas viraram motivo de embate entre o presidente e os governadores. Bolsonaro tem cobrado publicamente que os estados reduzam o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para que, dessa forma, os preços da gasolina e do diesel recuem.
Formação de preços
Primeiro, é preciso entender como os preços da gasolina e do diesel são definidos. A formação do preço dos combustíveis é composta pelo preço exercido pela Petrobras nas refinarias, mais tributos federais (PIS/Pasep, Cofins e Cide) e estadual (ICMS), além do custo de distribuição e revenda.
Há ainda o custo do etanol anidro na gasolina, e o diesel tem a incidência do biodiesel. As variações de todos esses itens é o que determina o quanto o combustível vai custar nas bombas.
Veja abaixo quanto cada item representava, em média, no preço final dos combustíveis na semana de 15 a 21 de agosto.
Dólar em alta
O principal ‘motor’ das altas da gasolina e do diesel vem sendo o real desvalorizado. Até esta quarta-feira (25), o dólar – moeda à qual o valor do petróleo é atrelado – acumulava alta de 0,46% sobre o real este ano. Em março, no entanto, essa valorização chegou a 11%.
“Eu destacaria que o principal culpado para a alta do preço do combustível é o câmbio, de longe. O petróleo já esteve num valor acima do atual, e o combustível não custava o que custa hoje”, afirma Walter de Vitto, analista da consultoria Tendências.
O que dá força para esse movimento de perda de valor da moeda brasileira são as várias incertezas dos investidores com relação ao rumo da política econômica do governo Jair Bolsonaro.
Nos últimos dias, o país viu um acirramento da crise institucional com ameaças feitas pelo presidente às eleições e aos demais poderes. Aliada ao fraco quadro fiscal do Brasil, e às dúvidas sobre a qualidade das reformas que o governo Bolsonaro pode aprovar no Congresso, essas incertezas afugentam os dólares do país – e impedem uma valorização do real, o que, na ponta final, poderia contribuir para uma queda do preço dos combustíveis.
“A questão fiscal precisa ser atacada, agora tem a questão política. Esses fatores geram essa incerteza, e o câmbio reflete tudo isso”, diz de Vitto, da Tendências. “A demanda por real diminui, a demanda por dólar aumenta, e a moeda brasileira se desvaloriza.”
Preço do petróleo no mercado externo
Há ainda um fator adicional de pressão. O valor do combustível também é influenciado pela recuperação da cotação do petróleo no mercado internacional. Depois do choque provocado pela pandemia de coronavírus, a economia global deve ter um crescimento robusto neste ano, o que aumenta a busca pela commodity e, consequentemente, ajuda a puxar os preços para cima.
“Com essa alta do preço (do petróleo) no mercado internacional, o preço do combustível fica mais alto logo na partida”, diz Juliana Inhasz, professora e coordenadora da graduação em economia no Insper.
No governo Michel Temer, a Petrobras alterou a sua política de preços de combustíveis para seguir a paridade com o mercado internacional.
Os preços de venda dos combustíveis praticados pela estatal passaram a seguir o valor do petróleo no mercado internacional e a variação cambial. Dessa forma, uma cotação mais elevada da commodity e/ou uma desvalorização do real têm potencial para contribuir com uma alta de preços no Brasil, por exemplo.
A Petrobras é dominante no mercado. E, portanto, qualquer mudança adotada pela estatal tem capacidade para produzir um impacto em toda a cadeia.
Tributação
Uma das principais acusações correntes sobre a alta de preços está relacionada ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – o ICMS. O imposto estadual, de fato, tem grande peso sobre o valor na bomba. A alíquota varia entre os estados: no caso da gasolina, chega a 30% em alguns locais.