A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) reuniu lideranças religiosas e representantes governamentais no Terceiro Seminário Inter-Religioso do Instituto Expo Religião, nesta segunda-feira (13/09). Na abertura do evento, o presidente da Casa, deputado André Ceciliano (PT), disse que o Parlamento está engajado nas ações de combate à intolerância religiosa.
“Vivemos um momento difícil no Brasil e no mundo e a Alerj dá um exemplo de harmonia e de congraçamento quando reúne todos esses representantes. A Casa é de vocês, por favor, sintam-se à vontade para usar esse espaço para debater um assunto tão importante”, declarou Ceciliano no início do evento.
O deputado Átila Nunes (MDB), que tem uma história de luta em defesa das religiões de matriz africana, destacou que a expressão intolerância vem sendo empregada equivocadamente. Para ele, tolerância é estar disposto a aguentar aquilo que não parece correto ou aceitável: simplesmente se “suporta” o outro, mas não se aceita a convicção do outro, encarando-a como legítima.
“À primeira vista, preconceito e intolerância parecem sinônimos, só que preconceito é a ideia, a opinião ou sentimento que conduz à intolerância, à atitude de não admitir opinião divergente. O preconceituoso é capaz de reagir com violência ou agressividade a certas situações, até mesmo porque o preconceito pode existir sem jamais se revelar, já que é uma opinião sem julgamento”, destacou.
Alerj tem em andamento a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura casos de intolerância e racismo religioso, presidida pela deputada Martha Rocha (PDT). Durante o seminário, representantes perguntaram à parlamentar sobre qual deverá ser o encaminhamento da comissão ao fim dos trabalhos. Martha antecipou que a CPI está traçando um diagnóstico desses crimes no Rio e pretende criar um rito de estratégias para combater a intolerância no estado.
“Já identificamos, por exemplo, a necessidade da interiorização da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e a formulação de um Plano Estadual de Enfrentamento à Intolerância”, disse.
A parlamentar, que foi chefe de Polícia Civil no estado, ressaltou que profissionais de segurança pública precisam ter uma escuta diferenciada. “A pessoa não pode se sentir revitimizada quando chega à delegacia. Também me chama muito a atenção a dimensão dos casos narrados na CPI e isso está no nosso radar”, afirmou.
Educação religiosa
Há dez anos comandando o Instituto Expo Religião, Luzia Lacerda, destacou a necessidade de debater nas escolas a origem de todas as religiões praticadas no país. “Os professores de ensino religioso precisam apresentar a história de cada religião e não só das religiões majoritárias. A nossa ideia é propor ao Governo do Estado que seja aplicado um Workshop para discutir o tema aprofundado nas salas de aula”, afirmou.
Em resposta, a coordenadora de Ensino Religioso, da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), Maria Beatriz Leal, afirmou que o programa curricular trata da liberdade religiosa e trabalha com diversos dogmas. “O currículo foi todo construído por professores de diversos credos. Mas só isso não é o suficiente para combater a intolerância, por isso, desenvolvemos alguns projetos, entre eles, o “Educação Mais Humana”, que trata da liberdade religiosa, do racismo e da diversidade, ampliando para outras violações; e o projeto “Para Nunca Esquecer”, que trata do Holocausto”, pontuou.
Ela ainda informou que a rede estadual conta com cerca de 600 professores de ensino religioso e que o credo do profissional não é critério para contratação. Beatriz disse que quando os professores assumem o cargo na rede de ensino, eles são informados que a pauta curricular é ampla.
“Eu só sei a religião desse docente quando chega alguma demanda e preciso fazer esse levantamento. Esses profissionais entram por concurso. A maioria é de católicos e evangélicos, sinal de que é preciso entender a história do nosso país e buscar soluções para democratizar essa estatística”, explicou a coordenadora.
O líder mulçumano xiita, Carlos Macedo, acrescentou que a informação e o debate sobre as religiões também precisam chegar aos ambientes corporativos.
“Estamos falando da necessidade de uma sociedade harmoniosa. Deveríamos trazer para a mesa corporativa discussões sobre o tema. Ainda existe muito preconceito com determinadas religiões, principalmente quando a vestimenta se diferencia da tradicional, o que prejudica na contratação de muitos religiosos”, relatou.
Mídia e a Intolerância
A jornalista Flávia Oliveira destacou que é preciso uma sensibilização das empresas jornalísticas em relação à riqueza religiosa do país. “Festejo a superação de uma visão estereotipada e folclórica de muitas religiões, mas ainda me ressinto da falta de uma cobertura mais profunda e que reconheça as potências de todas as religiões. Isso precisa ser revisto na base, na educação. Nem na faculdade de jornalismo esses assuntos são tratados e essa abordagem precisa ser feita previamente com estudo, para que não se tenha desinformação ao dar uma notícia”, ponderou Flávia.
Cultura
Criar uma Mostra Musical ligando religião e cultura foi uma das ideias propostas pelo presidente da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj), José Roberto Gifford. “Nosso objetivo é promover a cultura e informar. Vamos continuar escutando a todos e pensando em novos projetos. Se queremos atuar contra a intolerância não podemos atuar sozinhos. Vocês estão aqui para nos ajudar. A Funarj é de quem quiser acessar, usem e abusem desse espaço”, concluiu Gifford.