Escrito em 2018 e com as gravações paralisadas em 2020 devido à pandemia, o filme Proteção, do cineasta Alberto Sena, voltou ao set de filmagem para finalização, com previsão de estreia para janeiro de 2022. O longa-metragem aborda as experiências de seus personagens com o racismo estrutural e leva ao público a reflexão sobre reparação racial.
“Trata-se de ficção/suspense, com duração aproximada de 95 minutos, que aborda questões como espiritualidade, ancestralidade, reparação racial e amor. O roteiro escrito em 2018 dialoga com o atual momento da pandemia. A premissa do longa é levar reflexão a partir das narrativas vividas, com diversos olhares e vivências da população negra”, adianta o diretor. O elenco conta com as atuações de Érico Brás, Dani Ornelas, Tito Sant’anna, Wilson Rabelo (de Bacurau) e Dja Martins, além do protagonista, Reinaldo Junior.
A trama discorre através do personagem Tarik, um jovem cientista com um futuro promissor, que retorna ao Brasil após a morte de seus pais. Ele inicia uma caminhada pela descoberta da sua identidade e é confrontado pelos seus privilégios e o papel social que deixa de exercer. A história também é metalinguística: percorre o processo do chamado “cinema de guerrilha”, ou seja, os inúmeros obstáculos que dificultam a realização das produções independentes, sem financiamento público ou patrocinadores, e com recursos escassos.
“É um filme negro, em que todas as escolhas convergem para o ‘pretagonismo”’, contrariando o modus operandi estabelecido no mercado audiovisual e nos demais setores da sociedade, onde frequentemente as potências negras são silenciadas e invisibilizadas. Seja na temática, na abordagem, na forma de produção, na horizontalidade de relações e funções, na seleção do elenco e da equipe técnica, tudo que o compõe congrega para trazer ao público reflexões sobre valores, amor, ciência e religião, ancestralidade, afetos, reparação e cultura numa perspectiva afrocentrada, portanto, coletiva”, descreve a atriz Luana Arah, que interpreta Zaila.
Para Luana, o filme foi um presente carregado de significado pessoal como mulher negra e artista. “Zaila representa a força do matriarcado nas sociedades negras, a responsabilidade no combate ao racismo estrutural em uma sociedade desigual como é o Brasil, onde a negritude ainda é para muitos negros uma descoberta. Espero estar atuando à altura do que o projeto exige e por tudo que essa narrativa representa ao povo preto, em especial às mulheres negras”, declara.
Segundo o ator Rodrigo Átila, o longa-metragem pode causar certo estranhamento por conta da abordagem do filme, talvez até certo ponto polêmico para alguns, mas será um filme que vai trazer uma grande reflexão na sociedade. “O filme nos coloca em primeiro plano sempre, empoderados e protagonistas, para deixar nossa autoestima lá em cima. Fazer parte disso me colocou em um lugar muito especial. Estar em um set de filmagem com maioria preta, contando histórias a partir de nossas perspectivas, é muito gratificante”, disse o ator.
A produção é do coletivo Ponte Cultural, um grupo de artistas que surgiu em 2016, com o objetivo de promover a inclusão social por meio do acesso à cultura e à educação superior, ao oferecer gratuitamente cursos de teatro, cinema, TV, desenho realista, danças urbanas, teclado, violão, piano, o pré-vestibular comunitário, além de disponibilizar uma biblioteca comunitária e promover saraus e cineclubes mensais. O grupo é responsável por projetos culturais em São Gonçalo e em Itaboraí, como o Festival de Cinema Cine Tamoio, e pela produção de documentários, curtas e videoclipes.