A Petrobras reajustou mais uma vez o preço da gasolina nas refinarias, dessa vez em 7%, a partir desta terça-feira (dia 26). Com isso, o preço às distribuidoras passará de R$ 2,98 para R$ 3,19 por litro, em média. O consumidor não deve ficar imune à alta, porque os postos também já começaram a alterar os valores nas bombas. Em uma ronda pela cidade do Rio, o EXTRA encontrou o combustível sendo vendido a R$ 7,54 em um posto na Lagoa, na Zona Sul. Motoristas estão preocupados com o impacto no orçamento familiar e reclamam dos aumentos recorrentes.
O diretor de Comunicação do Sindicato dos Taxistas Autônomos do município Rio de Janeiro, Vagner Monteiro, conta que os taxistas, além de estarem trabalhando de 14 a 15 horas por dia, têm mudado a estratégia para alcançar passageiros:
— Antes, os taxistas rodavam para buscar passageiros na rua. Agora, com essas altas consecutivas no combustível, estão trabalhando mais parados, em pontos estratégicos, como portas de mercados e saídas de metrô. Isso atrapalha muito — explica Monteiro.
A motorista de aplicativo Joyce Travassos, de 56 anos, tem kit-GNV instalado no carro. Mesmo assim, precisa abastecer com gasolina para não ressecar o motor. Para conseguir pagar suas contas, está buscando outras formas de ganhar dinheiro.
— Eu continuo no aplicativo e comecei a prestar serviço para uma empresa, mas não tem sido suficiente. Eu pago minhas contas mais atrasadas. A minha prestação do financiamento do carro de outubro, por exemplo, não paguei. Paguei a de setembro agora. É uma batalha — reclama a autônoma.
Sem poder reduzir o uso do carro durante a semana por trabalhar com o veículo, a representante farmacêutica Nayara Rodrigues, de 30 anos, passou a evitar nos momentos de lazer:
— Tenho ficado mais em casa e, quando saio com a minha família, tentamos ir todos em um veículo só. Sempre que possível, pego carona.
Na última semana, a FGV divulgou um estudo que revela que a inflação ao motorista nos últimos 12 meses foi quase o dobro da inflação geral, atingindo 18,46%. O que mais pesa são os preços dos combustíveis: no ano, a gasolina acumula alta de 73%, e o diesel, de 65,3%.
Mais aumentos
Os aumentos devem continuar. Com a retomada da economia mundial, a demanda por petróleo é maior do que a oferta. Para o economista do Ibmec RJ Tiago Sayão, o preço do barril — o tipo Brent chegou a US$ 86,35 na última segunda (dia 25) — ainda tem margem para subir.
— Os produtores estão, aos poucos, retomando a produção, mas a demanda está mais acelerada. Esse descasamento pressiona o preço do barril — justifica Sayão: — Outra questão é que a economia brasileira apresenta muitas incertezas. Todo dia fala-se algo novo que deixa o investidor internacional inseguro, como a expectativa de queda do PIB. Ele, então, prefere investir em lugares onde esteja exposto a menores riscos, como Londres e Nova York. Com menos dólares disponíveis, a cotação tende a subir.
Os dados elaborados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/subseção FUP), com base nas estatísticas oficiais da Petrobras (refinarias) e da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (postos) apontam que, de janeiro de 2019 a outubro de 2021, as altas nas refinarias foram de 106,6% na gasolina e de 81,4% no diesel. Nos postos, houve elevação de 46,4% na gasolina e de 46,3% no diesel. Nesse período, a inflação foi de 16,5%, e o salário mínimo variou 10,2%, perdendo seu poder de compra.
Seleção de corridas
Para ser vantajoso o trabalho com aplicativos de transporte, Sayão aponta que — a partir das altas dos combustíveis — os motoristas vão passar a selecionar corridas mais longas, já que as curtas têm margem reduzida. Esse efeito já tem sido sentido pelos passageiros, que reclamam na internet do alto índice de cancelamentos.
Ciente disso, as plataformas promoveram reajuste no preço do serviço, a fim de aumentar os repasses aos parceiros. A 99 concedeu reajuste nos ganhos dos motoristas entre 10% e 25% nas mais de 1.600 cidades do Brasil onde opera. Além disso, a empresa dá o desconto de 10% em todos os postos da rede Shell, com pagamento feito via Cartão99.
Já a Uber lançou uma nova modalidade de corridas, com valor mais caro: na Prioridade, o cliente paga cerca de 20% a mais e é atendido mais rápido. Outra medida foi a criação de um programa de bonificação neste fim de ano, que vai premiar com até R$ 1.500 aqueles que completarem um número mínimo de viagens semanalmente mantendo, no período, os mesmos níveis de aceitação e cancelamento do Uber Pro, o programa de vantagens da plataforma.
Também estabeleceu uma parceria com os postos Ipiranga para dar desconto em abastecimentos. Pagando com o aplicativo Abastece Aí, o parceiro recebe 20% de cashback. Considerando um carro 1.0 que abasteça toda semana com gasolina, por exemplo, a economia estimada supera R$ 500 por ano.
GNV é mais vantajoso do que nunca
Entre etanol e gasolina, abastecer com a segunda opção é a mais vantajosa no momento. Apesar de o combustível ser o mais caro, ele rende mais. Para fazer as contas, basta dividir o valor do etanol praticado no posto pelo preço da gasolina. Se o resultado for maior que 70%, o ideal é escolher a gasolina. Para carros mais eficientes e mais novos, pode-se utilizar a proporção de 75%.
Porém, quando o assunto é GNV, apesar dessa alternativa também estar cara, é a opção mais lucrativa atualmente. A diferença do seu preço para os demais combustíveis pode chegar a R$ 3, e o rendimento ainda é maior.
Um levantamento da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) sugere que o GNV é 45% mais vantajoso do que a gasolina e 54% melhor do que o etanol. Para o cálculo, é considerado o valor por quilômetro rodado.