Os dois filhos de Flordelis denunciados pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) pela morte do pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019, foram condenados por decisão da juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói. O julgamento começou ainda na tarde de terça-feira (23) e só terminou por volta das 5h45 desta quarta-feira (24).
Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada, acusado de atirar contra o pastor, pegou a pena maior, de 33 anos e dois meses de prisão. Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo acusado de ter comprado a arma do crime, foi condenado a sete anos e seis meses.
Lucas admite compra de arma; Flávio fica em silêncio
Durante o julgamento, Lucas reafirmou que comprou a arma usada no assassinato e que sabia dos planos de parte da família para assassinar o pastor. Flávio usou o diretor de permanecer em silêncio. “Ele falou que precisava da arma porque estava tendo problemas com o irmão da ex-mulher”, disse Lucas, confirmando que Flávio o pediu para que o ajudasse a comprar uma arma devido ao seu envolvimento com o tráfico de drogas.
Lucas disse que a arma foi adquirida dois dias antes do crime. Na noite do assassinato, ele contou que foi deixar uma mochila na casa de Flordelis e saiu para ir a um baile funk. “O Flávio estava em casa. Ele estava acordado e mexendo no celular. Eu disse que voltaria para buscar a mochila antes das 7h. Por volta de 4h ele começou a mandar mensagens perguntando o que eu tinha feito, dizendo que haviam baleado o Anderson e quase atingido a mãe dele”, disse.
Perguntado se sabia de planos na família para o assassinato do pastor, Lucas respondeu que sim. Ele afirmou que foi procurado em duas ocasiões por Marzy e Raiane com a oferta de R$ 10 mil para matar o pastor: “A Raiane disse que eu não precisava cometer o crime. Era só arranjar alguém. Aparentemente, o dinheiro seria pago pela Flordelis, porque a Raiane trabalhava em Brasília com ela e a Marzy não tinha trabalho”.
Ele também respondeu perguntas sobre a carta que Flordelis teria enviado para ele copiar na cadeia, assumindo a autoria do crime e acusando Luan e Mizael de terem sido os mandantes. “Atrás da carta tinha um recado da Flordelis para mim, dizendo que precisava da minha ajuda, e que iria me ajudar também em tudo que eu precisasse, que nada iria acontecer comigo, pois ela estava em contato com um ministro e com a primeira dama”.
Filha de Flordelis diz que Flávio era ‘ruim’ e ‘violento’
Roberta contou que viveu na casa de Flordelis e de Anderson do Carmo dos três meses aos 21 anos de idade, e que saiu da casa após o assassinato do pastor. Segundo ela, Flávio era o mais agressivo da casa na hora de ‘corrigir’ as crianças.
“A forma dele de agredir era diferenciada. Ele sempre mais agressivo. Enquanto outras davam uma palmada ou chinelada, ele colocava as crianças ajoelhadas no milho e de cara para a parede. Ele sempre foi ruim, uma pessoa ruim mesmo. E sempre muito agressivo. Eu tinha medo dele”, disse Roberta.
Delegada: filho se incomodava com relações sexuais abertas de Flordelis e Anderson
A delegada Bárbara Lomba, responsável pelo início da investigação da morte do pastor Anderson do Carmo, disse em depoimento, que durou 1h12 minutos, que Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis não suportava o convívio com relações afetivas entre os membros da casa. Flávio e Lucas Cézar do Santos de Souza são réus no primeiro dia de julgamento por homicídio triplamente qualificado pela morte do pastor Anderson do Carmo. O julgamento dos demais réus não tem data marcada para acontecer.
“Havia relações sexuais entre todos. Era uma relação aberta (entre Flordelis e Anderson do Carmo). Flávio nunca aceitou e foi morar com a avó. Foi possível perceber que provocava um abalo emocional”, afirmou a delegada ao comentar o caso de um pastor que começou a se aproximar de Flordelis e frequentava a casa do casal com a esposa onde os quatro se relacionavam realizando troca de casais.
Flávio, que neste julgamento é representado pela Defensoria Pública, durante as investigações confessou que matou Anderson do Carmo. Nenhum dos dois, no entanto, entregavam a autoria do crime. O filho biológico de Flordelis alegava que sentia ódio porque, segundo ele, Anderson abusava de duas mulheres da casa. A delegada, no entanto, afirmou que essa versão não foi confirmada. Segundo Lomba, nenhuma mulher da casa endossou essa denúncia.
Relembre o caso
O pastor Anderson do Carmo, de 42 anos, marido da então deputada federal e também pastora, Flordelis, foi morto a tiros, na madrugada de 16 de junho de 2019, em casa, no município de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Na ocasião, Flordelis chegou a dizer que ele havia morrido tentando defender a família de criminosos. Entretanto, as investigações apontaram a pastora como a mandante do crime, que teria sido motivado porque Anderson controlava rigorosamente as finanças da família e não permitia tratamento privilegiado das pessoas mais próximas à ex-parlamentar.
Por conta da denúncia, no último dia 11 de agosto, a Câmara dos Deputados cassou o mandato de Flordelis por quebra de decoro parlamentar, por ela ter usado seu mandato para coagir testemunhas e ocultar provas do processo. Dois dias depois, ela foi presa e responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. Antes, quando tinha imunidade parlamentar, ela era monitorada por tornozeleira eletrônica.
Dos 55 filhos biológicos e adotivos da pastora, sete estão envolvidos no crime. Adriano dos Santos Rodrigues, André Luiz de Oliveira, Carlos Ubiraci Francisco da Silva, Flávio dos Santos Rodrigues, Lucas Cezar dos Santos de Souza, Marzy Teixeira da Silva e Simone dos Santos Rodrigues estão presos. Além dos filhos, a neta Rayane dos Santos Oliveira, o ex-policial militar Marcos Siqueira Costa e sua esposa, Andrea Santos Maia, também estão presos por participação no caso. Todos eles irão a júri popular.