O Maricá encerrou de forma dígna a participação no vôo mais alto do clube desde a fundação. O clube deixou a Copa do Brasil, na primeira fase, ao ser derrotado pelo Guarani, de Campinas, em partida realizada sob um forte calor e com o gramado ruim, nessa terça-feira (1), em Saquarema. O Bugre jogava pelo empate, mas a vitória de um clube com muito mais anos de existência e tradição, com um título de campeão brasileiro no currículo, mostra que a equipe da região está no caminho certo e pode ser a grande referência no futebol profissional no Leste Fluminense. Em jogo muito disputado e edquilibrado, a equipe paulista venceu por 1 a 0.
No primeirto tempo, o Guarani teve mais posse, porém, as melhores chances foram do Maricá. A principal aconteceu quando Wálber recebeu lançamento, avançou livre, mas parou em Kozlinski. Carrera ainda pegou o rebote, mas mandou por cima. O goleiro bugrino voltou a trabalhar em chute de longe de Luan Gama. O Maricá também reclamou de um pênalti não marcado de Ronaldo Alves em cima de Carrera. Segundo Fernanda Colombo, na Central do Apito, a arbitragem deveria ter marcado a penalidade.
No segundo tempo, o Bugre conseguiu administrar a situação de uma forma mais segura no segundo tempo, sem passar sustos. O Maricá, apesar da necessidade, pouco assustou. O jogo ficou ainda mais à feição do Guarani quando o zagueiro Átila tentou sair jogando na frente de Lucão do Break, perdeu a bola na grande área, e o atacante alviverde marcou, aos 35 minutos. O gol acabou com qualquer ímpeto do Maricá na reta final.
Dignidade – Ao fazer bonito na Copa do Brasil, o Maricá F.C, além de recolocar o futebol do Leste Fluminense na ‘vitrine’ do esporte em âmbito nacional, realizou rara proeza conseguida por equipes da região. Para quem não sabe, o Manufatora, o Fonseca e a Eletrovapo, todas já extintas há anos, entre dias de glórias e conquistas regionais, tiveram o privilégio de participar de edições antigas da tradicional competição nacional, mas nunca passaram da primeira fase. Para os amantes do futebol na região, a chamda ‘última vez’ foi em 1965, há 56 anos, com a Eletrovapo, um time mantido pela direção de um estaleiro e com o mesmo nome, na Ilha da Conceição.
A Taça Brasil, o ‘embrião’ para o atual Copa do Brasil e o ‘Brasileirão’, foi criada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBD), hoje CBF, no fim da década de 50. Nesse período, uma vaga era destinada ao campeão de futebol do antigo Estado do Rio, época em que Niterói foi a capital regional, até o ano de 1975, quando houve a fusão com o Rio de Janeiro.
A primera equipe de Niterói a estreiar na ‘Taça Brasil’ foi o Manufatora, que levava o nome da tradicional fábrica de tecidos do Barreto. Campeã estadual em 1958, a equipe enfrentou o Rio Branco, do Espírito Santo, na primeira edição da competição nacional. No jogo de ida, em Vitória, os anfitriões venceram por 3 a 1. E repetiram o feito, dessa vez por 1 a 0, em pleno Caio Martins.
No fim da década de 70, o time do Barreto foi o último da região a participar do Campeonato Estadual e chegou a mudar o nome para Associação Desportiva Niterói (ADN), para tentar atrair torcedores da cidade. Na primeira vez, em 1979, foi rebaixado, mas conseguiu retornar á elite no fim desse mesmo ano, após vencer o torneio seletivo para definir a vaga do acesso. Em 1980, após o novo rebaixamento, passou viver os piores momentos, chegando à Terceira Divisão. Em processo de acentuada crise financeira, a direção da fábrica decidiu extinguir o time. A Arena Assad Abdalla, que sediou jogos profissionais na região, até a construção do Caio Martins, em Niterói, em 1941, hoje já não existe e suas ruínas, na Rua Doutor March, no ‘Barreto, foram ‘engolidas’ pelo mato e densa vegetação que toma conta do local.
A outra equipe de Niterói que conheceu as glórias da ‘Taça Brasil’ foi o Fonseca, nas edições de 1960, 61 e 63. A experiência na estréia foi um ‘desastre’, com duas derrotas para o Fluminense, por 3 a 0 e ‘sonoros’ 8 a 0. Em 1961, a equipe da Zona Norte de Niterói foi eliminada de novo, dessa vez pelo, América após perder em casa por 3 a 0 e empatar o jogo de volta no Estádio do Andaraí. Em 1963, o Rio Branco (ES) foi o Algóz do ‘Galo Carijó’, como era conhecida a equipe do clube situado até hoje na Alameda São Boaventura, mas apenas com atividades sociais e esportivas. No primeira jogo, as capixabas venceram por 3 a 0, e no segundo, nova vitória por 1 a 0.
Na moeda – A Eletrovapo, da Ilha da Conceição, em Niterói protagonizou a última experiência de um time de futebol da região na chamada ‘elite’ do futebol brasileiro. E uma única vez, na edição de 1965, após vencer, no ano anterior, o Goytacáz, de Campos, pelo estadual. Um fato curioso marcou a saída da equipe da competição nacional, após três empates com a Desportiva (ES), em 1 a 1, no jogo de ida, na Arena Assad Abdalla, em Niterói, e em 2 a 2, em Vitória. Dois dias depois da segunda partida, a CBD determinou que um novo jogo fosse realizado para definir quem seguiria. E após um novo empate em 2 a 2, com direito a prorrogação, veio o fato inusitado.
Como determinava o regulamento, o juiz da últma partida, Aluísio Viug, usou o ‘cara ou coroa’ no sorteio que determinou a permanência da equipe capixaba – nessa época, a disputa por pênaltis ainda não havia sido implantada. Em 1977, a Eletrovapo foi extinta, após o fechamento do estaleiro, por causa da crise financeira.
A partir de 1969, os organizadores da ‘Taça Brasil’ passaram a dar mais espaço aos grandes clubes, com suas torcidas numerosas, nas metrópoles brasileiras, determinando também o fim do acesso à equipes de menor tradição. A exemplo do que aconteceu em outras regiões brasileiras, a vaga destinada ao campeão do antigo Estado do Rio foi extinta. E desde então, até o feito do E.C Maricá, o torcedor local jamais havia visto um time na elite do futebol.