De acordo com o Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, documento da UNICEF e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), entre 2016 e 2020, 35 mil crianças e adolescentes, até 19 anos, foram assassinados no Brasil, média de 7 mil por ano. No período de 2017 a 2020, 180 mil jovens sofreram violência sexual, com média de 45 mil casos por ano.
Maio tem a cor Laranja para conscientizar a respeito do abuso sexual de crianças e adolescentes. Segundo a psicóloga Lala Fonseca, especialista em Terapia Comportamental Cognitiva (TCC), o principal alerta é estabelecer um diálogo com as crianças sobre a sexualidade, no sentido de deixar claro, e objetivamente, quem está autorizado (pai e mãe) a tocar no sexo da criança para banhá-la ou tratar de algum problema. “Uma criança de três anos já começa a se tocar, a conhecer suas partes íntimas. É preciso manter um diálogo aberto entre as crianças e os pais. Muitas vezes, por tabu, os adultos não conversam com as crianças. Não os alerta sobre os riscos do que pode acontecer com amiguinhos, parentes ou conhecidos. O abuso sexual é um tema de aversão na nossa sociedade”, adverte a psicóloga.
Na visão da terapeuta, pelo caráter lúdico e inocente das crianças, muitas vezes o que o adulto pede para elas fazerem, elas fazem. “Por isso temos que estabelecer esta conversa. Além disso, é necessário não expor os pequenos a filmes, séries, livros ou mesmo noticiários com teores sexuais”, diz ela.
Outro alerta importante é sobre a auto culpa nos miúdos. “A criança, muitas vezes, se sente errada, percebe que cometeu uma infração. Ela confiou no adulto, mas sente que cometeu um erro. Desse modo, se o adulto tem um procedimento de assédio, a criança acredita que aquilo não tem nada demais e acaba fazendo. No entanto, depois do ocorrido, fica uma sensação desconfortável e acaba achando que ela está integralmente errada. A consequência desse tipo de episódio traumático são adultos que se sentem extremamente errados e angustiados com qualquer situação da vida”, comenta a terapeuta.
Por último, na opinião de Lala, quando uma criança passa por uma situação bem difícil ela pode regredir uma etapa do desenvolvimento infantil, “a sensação que a criança vive é que está perdendo um lugar e, assim, volte a ter comportamentos para se sentir segura como fazer xixi na cama, chupar o dedo, etc. Quando algo não está bem com uma criança, ela demonstra na regressão ou muda o comportamento para mais quieta, mais fechada ou mesmo mais agressiva do que o habitual”, conclui ela.