A equipe do laboratório 4 do Complexo de Laboratórios de Pesquisa e Inteligência Ambiental de Maricá, parte do convênio da Codemar (Companhia de Desenvolvimento de Maricá) e Biotec com a Universidade Federal Fluminense (UFF), realizou, no início de fevereiro, a primeira campanha de 2023, coletando 30 amostras de bentos – organismos que vivem em associação com o fundo dos ambientes aquáticos –, em triplicata, totalizando 90 amostras, na Lagoa de Araçatiba. O objetivo das coletas trimestrais é fazer análise da situação atual da macrofauna bentônica do projeto Lagoa Viva, possibilitando a pesquisa da base da cadeia alimentar, que tem influência direta no pescado da lagoa.
Após a atividade de campo, os pesquisadores recebem o material no laboratório para análise. Com o auxílio da lupa binocular, a equipe identifica o grupo de organismos presente na amostra, além de fazer a separação de acordo com cada espécie. O coordenador geral do Programa Lagoa Viva e professor do Instituto de Geociências da UFF, Estefan Monteiro, explica que analisar a macrofauna bentônica é importante porque ela é a base da cadeia alimentar da lagoa, proporcionando alimentação para vários peixes.
“Se você aumenta a quantidade de macrofauna e a biodiversidade dela, vai ter influência direta nos peixes. E os resultados são promissores. Nas amostras coletadas nas campanhas, identificamos que aumentou de quatro, em 2021, para 14 espécies no final de 2022. Eu nunca vi um exemplo tão matemático, tão claro e positivo do que está acontecendo como na Lagoa de Araçatiba”, afirma Monteiro.
Pesquisas identificaram espécies da macrofauna bentônica mais comuns na Lagoa de Araçatiba
Segundo o coordenador da equipe do laboratório, biólogo e doutorando em Dinâmica dos Oceanos e da Terra, Renan Amorim, já foram concluídas oito campanhas (contando com a de fevereiro de 2023) de monitoramento na Lagoa de Araçatiba. Durante as pesquisas, foi possível identificar quatros das espécies mais comuns da lagoa entre as 14 existentes: helebia australis (molusco – caracol), mytilopsis leucophaeta (molusco – mexilhão), amphybalanus improvisus (crustáceo – craca) e laenoreis acuta (anelídeo poliqueta).
“Durante a pesquisa, nos revezamos para poder levantar esses dados e, posteriormente, fazer estatísticas, visualizando os padrões encontrados. Sempre quando nós encontramos algum táxon (classificação de organismo), alguma espécie que ainda não foi identificada em nosso monitoramento, nós pesquisamos na literatura e, também, consultamos outros profissionais especialistas, tendo o apoio da UFF para poder desempenhar esse trabalho”, explica Renan.
Quando a equipe identifica uma nova espécie na pesquisa, confecciona o relatório com os resultados atualizados com a quantidade que foi encontrada de cada grupo de espécie. Com o auxílio da estatística, é possível comparar diferentes períodos.
“O nosso interesse respalda bastante em comparar o momento anterior, quando a lagoa ainda não havia recebido o tratamento com os bioinsumos, para o atual, com o Programa Lagoa Viva. Em comparação a 2021 – da primeira campanha, antes do início do projeto – percebemos um aumento significativo em alguns grupos de crustáceos. Também identificamos alguns grupos que não encontramos antes do início do tratamento com os bioinsumos, além de percebermos um aumento da diversidade, como com o crustáceo da espécie sinelobus stanfordi, que começou a aparecer em quantidades bem maiores”, afirma Amorim.
Pesquisas são importantes para mostrar resultado para população
Segundo Lucas Gaudie – Ley, biólogo e mestrando em Dinâmica dos Oceanos e da Terra, essas pesquisas realizadas pelo laboratório de macrofauna bentônica têm impacto para a população, uma vez que mostra resultados sólidos do monitoramento e para o conhecimento mais aprofundado da lagoa. “Nós também participamos de eventos e feiras na cidade, onde acontece o encontro direto com a população, podendo ter essa troca sobre o projeto, a fauna e a diversidade da lagoa, com o público. A Lagoa de Araçatiba estando mais equilibrada beneficia a cidade, a comunidade de pescadores e a economia local”, finaliza Lucas.
Coleta de amostras é feita periodicamente no mesmo local para análises de padrões
As campanhas são feitas em uma pequena embarcação, onde é utilizado um van veen – uma draga de aço inoxidável que ajuda a pegar uma quantidade padronizada de sedimento. Esse processo é feito três vezes, que representa três réplicas, no intuito de diminuir a incerteza sobre a distribuição dos organismos no fundo da lagoa, ambiente bastante heterogêneo. As amostras são sempre coletadas no mesmo local, para analisar, ao longo do tempo, os padrões e as mudanças que os pesquisadores têm observado.
Em terra, as amostras são lavadas, buscando otimizar, o máximo possível, a presença dos organismos e dos sedimentos mais grossos. Depois, é utilizado formol 10% diluído para as amostras poderem ser condicionadas em potes bem menores. Após esse processo, elas são levadas ao laboratório, onde os pesquisadores retiram o formol excedente e utilizam placas de petri – recipiente cilíndrico, utilizado para armazenamento em laboratórios de pesquisa – para colocar pequenas quantidades das amostras. Cada organismo que os profissionais encontram, eles separam em frascos menores, de cinco ou dez mililitros, onde deixam guardado para compor a coleção e realizar as análises.
Foto: Leonardo Fonseca