Imagine que você está numa escola e toca o sinal avisando que a aula de Língua Portuguesa já acabou. No próximo tempo, a disciplina a ser estudada será a de Ciências. A diferença é que aqui não são os professores, mas os alunos que trocam de sala. Assim é a rotina da Escola Municipal Antineia Miranda, localizada no bairro do Caramujo. A metodologia, uma novidade para muita gente, é conhecida como Salas Temáticas ou Salas Ambiente.
Por envolver diretamente alunos e professores na construção coletiva do conhecimento, o aprendizado se torna mais prazeroso e desafiador. A unidade, que atende 195 alunos, funciona em um CIEP, municipalizado em 2014 pela Prefeitura de Niterói. Ao ser incorporada à rede, ele foi escolhido para sediar um projeto piloto para a implantação do horário de tempo integral no Ensino Fundamental.
De acordo com o secretário de Educação e presidente da Fundação Municipal de Educação, Bira Marques, um dos grandes desafios atuais da educação pública brasileira é resgatar nos alunos o interesse e a vontade de se dedicar aos estudos, e ter dinâmicas diferenciadas pode ser um atrativo.
“As unidades escolares precisam estar sempre se renovando. Na busca por tornar o ensino cada vez mais próximo da realidade, e torná-lo mais atrativo, a metodologia das salas ambiente é capaz de promover uma oportunidade de mudança nas práticas pedagógicas. Uma oportunidade de a educação escolar ser valorizada pelos alunos, melhorando a relação destes com os demais profissionais que atuam na escola”, destacou.
Uma pesquisa realizada junto aos alunos, em meados de 2017, acabou sendo fundamental na definição do novo Projeto Político Pedagógico da escola. A atual diretora-adjunta, na época professora de História, Dayse Fontenelle, afirma que a construção coletiva foi fundamental para o sucesso da metodologia.
“Queríamos saber o que os alunos achavam das aulas, da escola e o que poderíamos melhorar. Uma aluna respondeu que gostava das minhas aulas, mas que, aqui na escola, era sempre tudo igual. O professor entrava em sala, passava os exercícios, os alunos respondiam e a aula terminava. Diante disso, resolvemos agir”, conta Dayse.
Em 2018, um projeto aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), possibilitou a compra dos materiais, do mobiliário e demais equipamentos para a montagem das salas temáticas. Além disso, os professores da unidade foram incentivados a se inscrever em uma especialização lato sensu voltada para o tema.
A implantação dos espaços temáticos, além de aumentar a movimentação dos alunos durante os intervalos, alterou radicalmente a estrutura física da escola. A diretora Kelly Perrout destaca que foram construídas nove salas temáticas: Língua Portuguesa, Matemática, Arte, Língua Estrangeira, Geografia, Letramento, Jogos, História e Laboratório de Ciências.
“O nosso objetivo foi romper com o tradicional, saindo do modelo repetitivo para o criativo, da imitação para o autoral. A proposta é oferecer um espaço de ensino que seja prazeroso, onde a construção do aprendizado aconteça de maneira efetiva, partindo da vivência do aluno e mediado pelo professor” diz Kelly.
Professor de Língua Portuguesa da unidade, Rafael Pereira destaca que a proposta possibilita uma mudança na perspectiva de trabalho e exige uma atualização profissional constante, além de estar comprometido com a construção e a garantia dos direitos da aprendizagem dos alunos.
“Ao contrário da sala de aula tradicional, aqui eles experimentam uma libertação do corpo. Na medida em que se levantam e transitam pelos espaços temáticos, a aula ganha uma dinâmica e se torna mais interessante. Também é possível aproveitar o conhecimento que a criança traz com ela e compartilhar com os colegas.”, afirma Rafael.
Aluno do nono ano, Marcos Vinicius Fagundes já se adaptou a rotina diferenciada e garante que não se vê estudando em outro lugar.
“Eu vim de uma escola particular e tinha muitas dificuldades com as matérias, mas agora, com esse formato dinâmico, estou conseguindo aprender bem mais”, afirma Marcos.
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