Axé em Luta nasceu para combater a intolerância e o racismo religioso, dias depois que pessoas da religião de matrizes africanas, de Itaboraí, sofreram ataques do pastor Felippe Valadão da Igreja Batista da Lagoinha, no palco do show artístico promovido pela Prefeitura Municipal de Itaboraí em maio de 2022, em comemoração ao aniversário de 189 anos do Município. O discurso ofensivo foi direcionado às religiões de matrizes africanas, em especial à Umbanda. Frases como: “Avisa para esses endemoniados de Itaboraí que o tempo da bagunça espiritual acabou. Pode matar galinha, pode fazer farofa, prepara para ver muito Centro de Umbanda sendo fechado na cidade”, foram ditas e transmitida pelo portal oficial da prefeitura de Itaboraí, região metropolitano do Rio de Janeiro.
O discurso de ódio, foi feito ao lado do prefeito Marcelo Delaroli (PL). Dias após esse ataque, nasceu o coletivo Axé em Luta, através dos idealizadores Ariela Nascimento e Matheus Costa, em uma reunião no Ilè Àse Omo Yemonja Àse Ajàgúnà, na casa do pai de santo Marcos de Iemanjá.
Para a presidenta do coletivo, Ariane Chaves Magalhães, 33 anos, o objetivo do movimento é o avanço do fundamentalismo religioso e o fascismo em Itaboraí. “Precisamos proteger nossos terreiros e nosso povo. Nossos terreiros vêm sofrendo perseguições políticas, por parte da atual gestão municipal, com isso, nosso propósito é trazer desmistificação da nossa religião e cultura para a sociedade como um todo. Mostrar todo o amor, equidade, zelo, irmandade, beleza e encanto, que há em nossa religião, que durante tantos anos foi e continua sendo demonizada por pessoas mal-intencionadas e outras que compram essa falsa narrativa”, afirma Ariane.
Com o intuito de promover a liberdade e diversidade religiosa, com garantia de direitos, políticas públicas eficazes, voltadas para a cultura e Religiões Afro-ameríndias, Axé em Luta, trabalha para que de fato sejam respeitadas e que funcionem de forma eficiente, para que exista equidade racial, social e de credo.
O Coletivo conta com mais de 40 terreiros apoiadores da cidade de Itaboraí e de outros municípios do Rio de Janeiro, entre representantes de religiões e apoiadores, que vão desde membros da sociedade civil à representantes do poder público do estado do Rio de Janeiro. O Axé em Luta conta com aproximadamente 500 pessoas.
Hoje o coletivo, além de lutar pelo direito de todos proferirem a sua fé de forma respeitosa, reivindica que o Pastor Felippe Valadão cumpra o estabelecido pela justiça, devido as ofensas cometidas, retratando-se e efetuando o pagamento da multa estabelecida em R$300.000,00 (trezentos mil reais), que será restituído para políticas públicas voltadas aos povos tradicionais de Matrizes Africanas de Itaboraí.
Reuniões presenciais, feito pelo coletivo, são realizadas em diversos terreiros, porém a maioria delas acontecem no Ilé Àse Omo Yemonja Àse Ajàgúnà, Jardim Imperial, Itaboraí. Pois, além do Patriarca Pai Marcos de Iemanjá ser o Vice-presidente do coletivo, foi lá onde surgiu o Axé em Luta.
Para a presidenta do movimento, a garantia da liberdade religiosa é o que move o coletivo.
“Desejamos que cada irmão que segue a religião Afro-ameríndia, tenha orgulho e não sinta mais medo, nem receio algum de professar a sua fé, seja por conta da violência, preconceitos ou perdas de oportunidades”, afirma Ariane.