A professora Thaila de Moraes Carvalho de Abreu, 29 anos, e o autônomo Marlon de Abreu Farias, 37, estavam muito felizes e comemoravam que seriam pais, em outubro de 2022. Após 8 anos de vida em comum, o casal tinha a certeza de que, com a chegada de um bebê, a família estaria formada e viveria uma grande história juntos. “Só não imaginávamos que seria a história de um milagre”, afirma Thaila, referindo-se ao nascimento de Maria Eduarda, uma prematura extrema que veio ao mundo com apenas 27 semanas e 2 dias, 615 gramas e 32 centímetros.
O casal contou a história do “milagre” de Maria Eduarda nesta sexta-feira (17), quando é celebrado o Dia Mundial da Prematuridade, num simpósio científico que reuniu profissionais dos setores que atuam na área de neonatologia do Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL), em Niterói. O encontro foi uma oportunidade para troca e disseminação de conhecimentos sobre os avanços da medicina neonatal e das outras áreas envolvidas nos cuidados intensivos dos prematuros, como enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia.
“Umas das maiores satisfações como médico e como gestor da saúde é ser testemunha dos avanços da assistência. Se por um lado estamos ganhando longevidade, por outro, também, estamos ganhando qualidade e sobrevida na prematuridade dos partos. Isso se deve ao cuidado integral que vai além dos avanços em tecnologias de aparelhos, mas é, sobretudo, uma tecnologia humana de cuidados humanizados, que se estende desde a fisioterapia, enfermagem, terapia ocupacional, nutrição até aos cuidados de pediatria neonatal”, afirma o diretor geral do HEAL, Marcus Vinícius Dias.
A jornada enfrentada pelo casal é uma das muitas vivenciadas na rotina da UTI neonatal da unidade, que é referência em partos de alto risco para os sete municípios da região Metropolitana 2 e especializada no atendimento a bebês que nascem antes das 37 semanas de gestação, o que caracteriza a prematuridade. No Novembro Roxo, criado para promover reflexão a respeito da prevenção e assistência neonatal, casos bem-sucedidos como da bebê Maria Eduarda são divulgados para sensibilizar sobre os avanços no atendimento multidisciplinar à prematuridade, bem como sobre a importância do acolhimento psicológico às mães e familiares, além das iniciativas de humanização preconizadas mundialmente por serem fundamentais para a recuperação dos recém-nascidos. Este ano, o tema da campanha é Pequenas Ações, Grande Impacto – contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares.
“Neste simpósio, falamos da prematuridade, suas causas e como podemos melhorar nossos cuidados com esses pequenos recém-nascidos. No Brasil cerca de 12% dos recém-nascidos são prematuros e a prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil nos primeiros 5 anos de vida. A campanha de 2023 vem reforçar a importância do contato pele a pele, inclusive para os prematuros extremos, que são os principais beneficiados. O Novembro Roxo é o mês dedicado à sensibilização e serve para mostrar a fragilidade desses bebê e sua individualidade. A cor roxa significa transmutação e é isso que queremos, dar visibilidade à causa da prematuridade e contribuir para que esse universo se modifique”, explica Cristine Delgado, coordenadora médica da UTI neonatal.
Maria Eduarda nasceu em 16 de fevereiro e permaneceu 113 dias internada lutando bravamente pela vida. O casal encontrou na equipe multidisciplinar da unidade o apoio necessário para enfrentar os piores momentos, como os problemas respiratórios, hemorragias, retinopatia, infecção bacteriana grave e intubação da pequena. Hoje, a bebê se desenvolve bem e recebe cuidados e fisioterapia em Itaboraí, onde os pais residem.
“Quando vi minha filha pela primeira vez na UTI fiquei sem chão. Tão pequenina, tão frágil, enroladinha na manta térmica, muitas máquinas, o banho de luz. Ao mesmo tempo em que eu queria ter o primeiro contato com a minha bebê, queria muito que ela ficasse quietinha lutando por cada momento. Com o coração apertado e acelerado, sem saber o que iria acontecer, confiamos que ela iria sobreviver, que os médicos seriam capazes de salvar minha menina. E foi isso o que aconteceu. Só em abril, depois da extubação, pude ver todo o rostinho da Maria Eduarda sem os equipamentos necessários para o seu processo de desenvolvimento. Outro momento emocionante foi quando no dia 31 de maio pude amamentar pela primeira vez. Fui acolhida de forma maravilhosa e imensurável pela equipe do Azevedo Lima”, relembra Thaila.
A angústia e o medo da mãe de Maria Eduarda fazem parte do dia a dia de todos os 200 profissionais que atuam na UTI neonatal e na Unidade Intermediária (UI) do HEAL. Até outubro deste ano, dos 2.149 bebês nascidos na unidade, 369 foram prematuros que precisaram ser internados na UTI. A não realização do pré-natal ou número pequeno de consultas, gravidez precoce, intercorrências durante a gestação, como diabetes gestacional e hipertensão, estão entre as principais causas do nascimento de bebês prematuros.
A UTI neonatal do HEAL também aplica nos prematuros boas práticas de humanização no setor, que auxiliam no neurodesenvolvimento dos recém-nascidos, tais como o método Canguru, que possibilita o contato pele a pele entre a mãe, pai ou responsável com o recém-nascido, e terapias como banho de ofurô, redeterapia (deita em posição semelhante a que ficava no útero), musicoterapia com Mozart (calmante), hora do soninho com luzes desligadas e contato com o Polvo de crochê (que se assemelha ao cordão umbilical).
Acolhimento e acompanhamento psicológico para mães e familiares
Além dos cuidados intensivos, o acompanhamento psicológico das mães e familiares é parte integrante da rotina da UTI neonatal, serviço disponibilizado 24 horas. A responsável técnica da Psicologia, Ediléa Oliveira, está à frente do grupo multidisciplinar terapêutico para os pais, que oferece semanalmente escuta especializada, roda de conversa, dinâmicas e troca de experiências entre as mães.
“A mulher grávida espera no seu imaginário a continuidade da gestação, que seu bebê nasça no tempo certo. Muitas vezes acontecem problemas que antecipam esse parto. Fazemos o acolhimento psicológico na tentativa de minimizar o sofrimento e a dor desse evento inesperado, dessa angústia que não era esperada. Muitas mães se culpam pelo bebê ter nascido antecipadamente, por não terem podido sustentar a gestação até o fim. Em alguns casos esse bebê não sobrevive, também trabalhamos a perda, o luto”, explica a psicóloga.
Para celebrar o Novembro Roxo, Ediléa e a equipe médica e de enfermagem organizaram na quinta-feira (16) um encontro especial entre os pais que estão com recém-nascidos internados e as famílias de bebês que passaram pelo mesmo processo, mas que já vivem em casa. Emoção foi o que não faltou nos depoimentos das mães, ao aconselhar àquelas que estão enfrentando o desafio de ter dado à luz a um prematuro para não perderem a fé e acreditarem no trabalho dos profissionais responsáveis pelos cuidados intensivos. Thaila e Marlon, com Maria Eduarda no colo, também deram o testemunho sobre tudo o que vivenciaram dentro da UTI neonatal.
“Desconstruí de uma série de certezas sobre a paternidade no tempo em que passamos com a Maria Eduarda na UTI. Por isso digo, confiem, acreditem, tenham fé na medicina e em todos os profissionais. Eram eles que, muitas vezes, nos davam uma injeção de ânimo quando as coisas não estavam muito bem. Sempre estaremos aqui para compartilhar a nossa experiência. Mesmo fora do hospital, continuamos nos ajudando. Temos um grupo de pais de bebês que nasceram prematuros, nos falamos sempre”, disse Marlon.
Fotos: Divulgação
Fonte Assessoria de imprensa e comunicação do
Hospital Estadual Azevedo Lima