A paralisação dos professores e servidores técnicos do Colégio Pedro II completa dois meses hoje. A greve, que começou em 3 de abril, deixa 12 mil estudantes de 14 unidades, nos municípios do Rio, de Niterói e de Duque de Caxias, longe das salas de aula. Muitos pais têm buscado alternativas para que os alunos não sejam tão prejudicados. As iniciativas vão de aulas remotas com professores voluntários a atendimento psicológico para crianças e adolescentes.
Gabriel, de 11 anos, sonha em ser advogado. Criado na Rocinha, na Zona Sul do Rio, ele tenta se adaptar à nova realidade: em vez de ir para a escola, no Humaitá, acompanha a mãe, Sandra Bento Rocha, de 51 anos, que trabalha como estoquista.
— Sinto falta da escola, dos meus amigos e dos professores. Às vezes fazemos videochamada para matar a saudade — diz o menino.
Com a idade de Gabriel, Ana Beatriz Inácio, no 6º ano da unidade de Realengo, na Zona Oeste, teve apenas dois dias de aula antes do início da paralisação. Mãe dela, a cabeleireira Celina Tavares Damaceno, de 41 anos, está preocupada com as crises de ansiedade da filha.
— Ela está recorrendo a medicamentos para controlar a ansiedade. Ana foi diagnosticada com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) pouco antes de começar a estudar no Pedro II. Passar todo esse tempo fora da escola não tem feito bem a ela — lamenta Celina, antes de acrescentar:
— Ana está tendo aulas com uma explicadora, mas não é o mesmo que ter um professor na escola e o contato social com outros alunos. Tem dias que preciso fazer o cabelo de uma cliente enquanto ajudo minha filha com uma conta de matemática.
Mudança no calendário
O Conselho Superior (Consup), instância consultiva máxima do Pedro II, já havia alterado o início do ano letivo, levando em conta a necessidade de reposição dos dias de recesso, pontos facultativos e paralisações desde a pandemia. No entanto, essa medida também vem sendo criticada pela comunidade escolar, já que o colégio passou a seguir cronograma diferente das demais redes de ensino.
— Sou professora de inglês e mãe de aluna. Minha filha estuda no segundo ano do ensino médio na unidade do Engenho Novo. Mesmo que passe no vestibular, precisará do diploma para ingressar em uma faculdade. Como vou explicar para minha filha que ela pode atrasar a faculdade? — questionou Maria Rosa Corrêa.
Os servidores reivindicam melhores salários e reclamam da falta de profissionais para atender os alunos em outras atividades fora das salas de aula. Funcionários alegam sobrecarga e pedem a contratação de bibliotecários, orientadores educacionais e assistentes sociais. Apesar de muitas famílias apoiarem as reivindicações dos servidores, cresce o desejo de que os profissionais em greve adotem outra alternativa que não seja a paralisação.
Em nota, a Reitoria do Colégio Pedro II informou que, no último dia 20 de março, “servidores e servidoras do CPII reunidos em assembleia do Sindicato de Servidores do Colégio Pedro II (Sindscope) votaram a favor da deflagração de greve a partir do dia 3 de abril de 2024. A deliberação relaciona-se à greve nacional das categorias (docentes e técnico-administrativos) de trabalhadores da Rede Federal de Educação, por tempo indeterminado. A aprovação da greve nacional ocorreu durante a 187ª Plenária Nacional do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), em Brasília, entre os dias 16 e 17 de março”.
Foto: Guito moreto