Com o objetivo de oferecer mais conforto e segurança aos pacientes com anemia falciforme, a Prefeitura de Itaboraí, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), criou um cartão de identificação que garante atendimento prioritário, na rede municipal de saúde, à pessoas portadoras da doença, especialmente durante crises dolorosas, que exigem manejo especializado. Essa condição hereditária afeta principalmente a população negra e parda e, se não tratada de forma adequada, pode reduzir significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
É válido ressaltar que o município de Itaboraí se destaca nacionalmente ao ser pioneiro na criação de um cartão de prioridade para pacientes com anemia falciforme. Essa iniciativa inédita fez com que a SEMSA fosse convidada pelo Ministério da Saúde para difundir o projeto a outras instituições em uma apresentação em Brasília (DF), em janeiro deste ano.
A assistente social e coordenadora da Saúde Negra, Cláudia Bomfim, destaca avanços importantes no município.
“Aqui em Itaboraí, já temos o hidróxido de ureia, que é distribuído para todos os pacientes cadastrados que possuem anemia falciforme, essa é também uma grande conquista da rede municipal de saúde”, comemorou a coordenadora.
O hidróxido de ureia é uma medicação amplamente utilizada no tratamento da doença falciforme. Ele atua na redução das crises dolorosas e melhora a circulação do sangue, diminuindo as complicações relacionadas à doença.
A anemia falciforme é a enfermidade genética mais comum no Brasil. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que a doença pode ser diagnosticada precocemente pelo Teste do Pezinho, realizado até o 5º dia de vida. Além do Teste do Pezinho, o exame de eletroforese de hemoglobina é oferecido gratuitamente pelo SUS, possibilitando o diagnóstico de pessoas não triadas ao nascer. Segundo o Ministério da Saúde, o cadastro nacional atual de pacientes conta com 29 mil pessoas diagnosticadas com a doença e outras hemoglobinopatias.
João Miguel Lopes Neves, de 11 anos, foi diagnosticado com anemia falciforme através do Teste do Pezinho e, desde então, faz tratamento contínuo. Sua mãe, Juliana Lopes de Almeida, moradora do bairro da Reta Velha, compartilhou os desafios enfrentados.
“Com esse cartão, se meu filho estiver com uma crise de dores, podemos ir até o Hospital Municipal Leal Júnior e ele será atendido para controle da crise. Após isso, a equipe de saúde do hospital leva ele até o Rio, onde ele vai iniciar o tratamento”, explicou Juliana.
Além de garantir o atendimento imediato na rede municipal de saúde, o cartão proporciona mais conforto aos pacientes durante crises, antes do encaminhamento a centros especializados, como o Hemorio, unidade especializada no tratamento das doenças hematológicas primárias de alta complexidade.
Em Itaboraí, iniciativas como palestras, rodas de conversa e ações educativas em escolas têm sido realizadas para conscientizar a população sobre a doença falciforme e a importância do combate ao racismo estrutural na saúde. Além disso, a Lei Municipal nº 2.848 de 2020, que institui a Política de Saúde da População Negra, fortalece as diretrizes para oferecer assistência qualificada e igualitária a grupos historicamente vulneráveis.