No período mais grave da pandemia, país vive com situações críticas de estado com risco de escassez de medicamentos do “kit intubação” e de oxigênio
Após mais de um ano desde o início da pandemia do coronavírus, o Brasil atingiu mais uma triste marca nesta quarta-feira. O país chegou a 300 mil vidas perdidas decorrentes da infecção da covid-19. Monitoramento independente do consórcio de veículos de imprensa indicou que o Brasil já tem 300.015 pessoas mortas pela doença até as 16h40 desta quarta.
O número se confirma no período mais grave da pandemia no país, com a maior taxa de contaminações desde o ano passado, estados enfrentam com falta de oxigênio, com o risco da escassez de medicamentos para o chamado “kit intubação” e filas para leitos de UTI. Junto a isso, o governo federal desestimula a adoção de medidas mais duras para conter o vírus e Bolsonaro chegou a entrar na Justiça para desobrigar estados que restringissem suas atividades não essenciais. Além disso, o país lida com novas variantes da Covid-19, que apresentam maior poder de contágio.
O Ministério da Saúde não elaborou um plano contra à Covid-19. Até o momento, o governo federal não conseguiu articular medidas em conjunto com estados e municípios para a criação de um plano nacional de combate à pandemia e de imunização, assim que as primeiras doses foram chegando ao Brasil. O governo federal preferiu entrar em um atrito com governadores e prefeitos quando as medidas estipuladas por esses grupos não vinham de encontro com a posição do Planalto.
Durante a gestão do primeiro dos quatro ministros da Saúde durante a pandemia, Luiz Henrique Mandetta, a pasta da Saúde chegou a defender o isolamento social. Porém, o governo federal passou a agir contra qualquer medida restritiva, o que, segundo os especialistas, ajudou a disseminar o vírus. Bolsonaro criticou duramente o fechamento temporário de setores não essenciais.
Além disso, contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o governo apostou em medicamentos que a ciência já havia demonstrado que são ineficazes contra o coronavírus, como a hidroxicloroquina e ivermectina. Bolsonaro afirmou que não iria tomar a vacina. Ele chegou a ironizar falando que quem tomasse viraria “jacaré”.
Para Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, a tendência de alta de mortes continuará ao longo de todo mês de abril. “Próximo mês ainda será complicado, se mantendo pelas próximas semanas até maio. Acredito que será uma média de 2 a 2,5 mil mortes por dia”, afirma ele.
Questionado sobre o superferiadão que estados como Rio e São Paulo farão, Chebabo explica que não deve apresentar um resultado que garanta alívio ao sistema de saúde. “O impacto seria muito menor se tivesse organização sanitária. A gente teria um lockdown verdadeiro com barreira sanitária e limitação de pessoas, além da contrapartida do governo federal ao liberar o auxílio emergencial. Infelizmente, não há uma coordenação central”, pontua ele.
Duas semanas como o país com mais mortes
Na última sexta-feira (19), o Brasil completou duas semanas como o país com mais mortes diárias por Covid-19 no mundo. O país, no dia 16 deste mês, chegou a ser o responsável por um total de 28% das novas mortes e 16% de todos os novos casos de Covid-19 registrados no mundo. Os dados são do Our World in Data.
No ranking mundial de mortes diárias, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos no último dia 5 deste mês, quando registrou 1,8 mil óbitos em 24 horas, enquanto os EUA tiveram 1.763. Desde a data, a diferença entre os dois países só aumentou.
Desde terça-feira (16), o país também registra mais mortes diárias por Covid-19 do que toda a União Europeia, além da América do Norte. O Brasil tem registrado mais mortes mesmo com uma população menor que a dos EUA (209 milhões contra 328 milhões) e da União Europeia (447 milhões).
Em número de casos, o Brasil também se tornou na terça o país com mais casos diários no mundo (83.926, frente 53.579 dos EUA).