A retomada da circulação nas ruas de Niterói vem sendo acompanhada de maior risco na segurança. Na cidade, dois dos quatro indicadores de violência consideradores estratégicos pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) voltaram a crescer nos primeiros cinco meses deste ano: roubo de veículos, que teve 5,5% mais casos, e de carga, com salto de 121%. A Polícia Militar diz que a pandemia de Covid-19 teve impacto nos números.
Foram 122 casos de roubos de cargas na cidade, de janeiro a maio, contra 55 no mesmo período de 2020. Os roubos de veículos subiram de 234 para 247. O levantamento considera apenas os registros feitos nas delegacias de Niterói (76ª DP, 77ª DP, 78ª DP, 79ª DP e 81ª DP) e não em toda a região coberta pelo 12ºBPM, que inclui Maricá.
Os números mostram que os outros indicadores estratégicos — a letalidade violenta e o número geral de roubos de rua — continuam seguindo a tendência de queda vista nos últimos dois anos. Foram 653 casos de roubos de rua de janeiro a maio deste ano, contra 831 em 2020. E a letalidade violenta caiu de 53 para 46.
A Polícia Militar avalia que comparações entre os últimos dois anos devem considerar a situação excepcional de restrições de circulação e barreiras sanitárias implantadas no início da pandemia da Covid-19. Para o antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que restringiu as operações nas comunidades, também trouxe impacto.
— O esquema de roubos de veículos e cargas se beneficiou dessa decisão, principalmente o de cargas. O roubo de carga começa a ser planejado dentro da comunidade que vai recebê-la. Para a polícia fazer uma operação e desmobilizar a quadrilha, é preciso autorização do Ministério Público e uma série de burocracias que dificultam as operações. Quando se chega lá, já não tem nem mais carga. Esse crescimento grande do roubo de cargas é um efeito colateral da decisão do STF — considera.
Mais tiroteios
Outro problema para quem mora em Niterói tem sido a volta dos tiroteios. Levantamento da plataforma Fogo Cruzado mostra que no último mês ocorreram 30, 14 deles envolvendo a presença de agentes do estado. Em junho do ano passado, foram cinco tiroteios, e nenhum teve registro da presença de agentes.
Storani diz que a guerra entre as quadrilhas após o afrouxamento das medidas de restrição fez com que houvesse maior atuação da polícia.
— A PM continua atuando. Ela tem que atuar. Toda vez que se diz que há participação policial é porque a polícia está atuando. Quando não tem essa participação é que é complicado. Se está havendo uma guerra de criminosos, a polícia tem de estar lá. Os traficantes sempre tentaram ampliar o seu negócio e seu domínio, e um dos objetivos da polícia é impedir que isso aconteça — defende.
De acordo com a PM, a opção pelo confronto armado é sempre uma iniciativa dos criminosos, “que realizam ataques inconsequentes com armas de guerra contra os policiais”. A nota reforça: “Ainda assim, a corporação atua com o objetivo central de preservar vidas”.
A PM pede para que a população colabore com denúncias ligando para o telefone 2253-1177 ou, em casos urgentes, através da Central 190. “Os registros em delegacias também são essenciais, pois colaboram com a revisão do planejamento operacional na área onde a mancha criminal é mais acentuada”, acrescenta.