A Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal do Rio discute em audiência pública, na tarde desta sexta-feira (12), o projeto de lei da Prefeitura do Rio que propõe a implantação de um equipamento cultural multiuso onde funcionava o Canecão, em Botafogo, na Zona Sul da cidade. O projeto foi enviado à Casa em agosto deste ano e estabelece condições para implantação de equipamento cultural no campus Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Professores e alunos da UFRJ, além de moradores do entorno, temem que, com a justificativa de restituir à cidade o equipamento cultural, a proposta acabe permitindo o aumento de gabarito e a destruição do meio ambiente e de partes importantes da Universidade. A presidente da Comissão, vereadora Tainá de Paula (PT), acredita que a presença da reitoria da UFRJ é fundamental para esclarecer as condições de implantação do equipamento cultural.
“Queremos acabar com as dúvidas, dialogar com todos os setores interessados e seguir com esse projeto, que será essencial no contexto de retomada econômica do pós-pandemia não só para o setor da cultura, mas para toda a sociedade”, explica a parlamentar.
Durante um evento no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, nesta sexta-feira, a reitora da instituição, Denise Pires, comentou sobre a audiência pública. De acordo com ela, no espaço não há autorização para o funcionamento de equipamento cultural, apenas de comércio como supermercados, shoppings, além de residências.
“A Prefeitura do Rio, já em conversa com a UFRJ, encaminhou para a Câmara dos Vereadores uma mudança no uso do terreno. Aquele terreno da Praia Vermelha que está ali abandonado, onde existia o antigo Canecão, é um terreno que não pode ter equipamento cultural funcionando. (…) Esse equipamento cultural que está previsto, ele não vai poder ser construído sem que nós tenhamos autorização para que ele funcione ali. Então, quando os vereadores aprovarem e o prefeito sancionar a lei, nós poderemos ter um equipamento cultural ali”, disse a reitora.
Ainda segundo Pires, o novo equipamento não vai se tratar da reinauguração do Canecão, uma vez que a família dos antigos donos detém os direitos do nome do antigo espaço. Mas a diferença não acontecerá apenas no nome, o local será projetado para receber 1,5 mil pessoas, atrações musicais e ópera e pode ter um anfiteatro com 200 lugares.
“Faremos um chamamento público e espero que os parceiros apareçam para devolver para a cidade do Rio de Janeiro esse equipamento, que não vai ser como era o Canecão. É um equipamento que, em primeiro lugar, pretende ter 1,5 mil lugares, um público de 1,5 mil pessoas, um pé direito alto para que possa acontecer musicais e ópera. A gente pretende que seja um equipamento cultural à altura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Acoplado a esse equipamento cultural está previsto um anfiteatro de 200 lugares, para que possa haver também eventos menores, em articulação com a nossa escola de Comunicação Social, com o curso de Direção Teatral, com a área acadêmica da Universidade.”
A reitora explicou que, sendo aprovado o projeto, o chamamento público será feito o mais rápido possível. A expectativa é anunciar em 2022 o responsável pela construção do equipamento e enquanto as obras acontecem, a UFRJ irá discutir o modelo de gestão para a reinauguração do espaço.
O Canecão
O Canecão foi inaugurado em 23 de junho de 1967, como uma cervejaria. A transformação em casa de espetáculos se deu dois anos depois, com show de Maysa, dirigido por Bibi Ferreira. Pelo palco, passaram artistas nacionais e internacionais consagrados como Ellis Regina, Chico Buarque e Elymar Santos, que chegou a pagar para se apresentar no local, até a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conseguir o direito de retomar o lugar. A universidade recebeu o terreno da União nos anos 1960.
Cobiçado por músicos, o espaço de 116 mil metros quadrados, entre a Avenida Venceslau Braz e a Rua Lauro Muller, está fechado desde outubro de 2010. O encerramento ocorreu após uma briga judicial de quase 40 anos entre a UFRJ e o antigo inquilino, o empresário Mário Priolli. A instituição argumentava o não pagamento do aluguel pelo ex-dono. Desde então, nada foi feito no local. Em junho de 2019, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) aprovou por unanimidade, o destombamento do Canecão. A casa de shows era tombada há 20 anos.