Artigo de opinião de Ariane Magalhães
Após quase 10 anos de vácuo, aconteceu no Rio de Janeiro, nos dias 23 (Teatro
Riachuelo), 24 e 25 de janeiro (UERJ-Maracanã), a 5a CONFERÊNCIA ESTADUAL
DE CULTURA RJ, com o objetivo de promover debates sobre o futuro da cultura no
Estado, com participação ativa dos delegados eleitos pela sociedade civil e poder
público, durante as conferências municipais e encontros setoriais, que aconteceram
durante as primeiras etapas da Conferência, no segundo semestre de 2023. Dos 92
municípios que compõem o estado do Rio de Janeiro, quase 97% desse total
participaram das conferências nesta etapa presencial. Foram eleitos delegados
pelas 10 regiões, com destaque para a Metro III – Leste Fluminense, que devido a
muitas divergências, precisou levar sua votação para cima do palco do teatro Odylo
Costa – diferentemente das demais regiões -, para a 4a Conferência Nacional de
Cultura que está prevista para acontecer entre os dias 04 e 08 de março em Brasília
DF.
O primeiro dia da 5a CEC (23), foi voltado para a leitura e aprovação do regimento
para encaminhamento de propostas através de grupos de trabalho e votação de
delegados titulares e setoriais para representarem suas regiões na 4a Conferência
Nacional de Cultura, que contará com 11 representantes do Leste Fluminense,
sendo 5 titulares, 5 suplentes e 1 pela Setorial de Povos Tradicionais.
Os craques do jogo
Resistência e perseverança fizeram com que a delegação de Itaboraí se destacasse
no 1o dia da Conferência, nas figuras de Ariane Magalhães (Presidenta do Coletivo
Axé em Luta) e Everton Dos Reis (Diretor do Fórum de Cultura de Itaboraí).
Devido a altivez, intrepidez e perspicácia de ambos, fazendo sinalizações
pertinentes à sociedade civil, devido a isso, o regime de votação foi implementado
através dos territórios e não através de chapas (o que poderia ser facilmente
manipulado e favorecer aos entrelaces do poder público), o que permitiu que a que
a sociedade civil pudesse ter mais mais liberdade para escolher seus
representantes.
Mesmo diante do total abandono do poder público de Itaboraí à 5a CEC – Itaboraí
não apresentou um membro do poder público sequer em todos os três dias de
conferência – e com número reduzido de delegados – foram eleitos 10 delegados
(titulares e suplentes) pela sociedade civil a princípio, mas que devido a um erro
provocado pela organização da conferência municipal, esse número se reduziu a 6
(titulares e suplentes) -, sendo apenas 3 delegados, estes conseguiram eleger um
delegado suplente para a Conferência Nacional, com votos até mesmo de outros
municípios: Everton dos Reis.
Maricá elegeu 4 delegados, sendo 1 delegada pela Setorial de Povos Tradicionais,
Mãe Jaci, 2 delegadas titulares, Aduni Benton e Raquel Simões e 1 suplente, com
destaque para este mulherio, sobretudo levando em conta que dentre estas, duas
são mulheres negras, com legado irrefutável dentro das construções de cultura
municipal de Maricá, ocupando espaços que outrora a estas eram negados. Maricá
tem sido exemplo de construção de políticas públicas que funcionam e isso
reverbera em quaisquer lugares onde vão, desde que se assumiu uma gestão
progressista.
A integração estratégica e inteligente entre os municípios de Tanguá e Rio Bonito,
permitindo que Rodrigo Rangel fosse eleito para representar esses dois municípios,
além de eleger Dawson Nascimento como suplente, foi destaque na votação de
delegados do Leste Fluminense e surpreendeu a todos.
Temperança e estratégia fez com que os municípios que aparentemente tinham
pouca visibilidade, pudessem levar seus representantes como titulares, ao contrário
de municípios que tinham como certa sua representação, e teve o tapete puxado
pela própria soberba.
São Gonçalo decepcionou
A delegação de São Gonçalo, em contraponto de todas as outras, se mostrou
heterogênea, desorganizada e egoísta, levando 3 delegados a concorrerem
simultaneamente, quando poderiam concentrar votos em apenas um.
Priscila do Funk, mais conhecida como Prix, não abriu de sua inscrição, devido a
não se sentir representada pelos demais delegados inscritos de São Gonçalo e
também por querer representar a história de cultura plural da cidade e não só de um
segmento, como cria, que estes outros estavam fazendo, garantindo assim, sua
vaga na suplência.
Os outros dois delegados de São Gonçalo também não foram eleitos titulares, tendo
um deles apenas um voto (o próprio) e a outra, quatro votos. Os votos desta última
precisou de recontagem, pois em um primeiro momento a delegada apresentou
mais de 10 crachás com votos, e ao ser questionado o número de votos, apenas 4
restaram.
Essa delegada está tendo sua suplência questionada devido a um episódio de
agressão física a um dos colaboradores da conferência, à uma tentativa de
agressão física a uma outra delegada e pela possível fraude em sua votação.
Delegados de outros municípios já entraram com pedido de impugnação imediata
da representante de São Gonçalo à organização da 5a CEC.
A cultura do Leste Fluminense (Niterói, Maricá, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá e Rio
Bonito), vem mostrando novas nuances no que tange protagonismo da sociedade
civil, pois mesmo diante dos entraves apresentados, os representantes e fazedores
de cultura de cada município, mostraram que estavam dispostos a construir um
novo cenário cultural através de suas mãos.
Que venha a Conferência Nacional.