A Prefeitura de Maricá lançou, nesta quinta-feira (26/08), o Programa Lagoa Viva e inaugurou uma biofábrica para produção de bionsumos (microorganismos vivos) que serão utilizados na revitalização das águas. O município é pioneiro na utilização de uma técnica de saneamento alternativo natural, sem química.
O primeiro passo prático foi na Lagoa de Araçatiba, a maior da cidade, onde são esperados efeitos transformadores e visíveis, como a renovação do ecossistema, a eliminação do mau cheiro e a limpidez da água.
O método da Universidade Federal Fluminense (UFF) foi desenvolvido a partir de know-how japonês, com adaptação inovadora para Maricá, a partir da parceria firmada com a Companhia de Desenvolvimento de Maricá (CODEMAR). A tecnologia é à base de bioinsumos, sem quaisquer efeitos danosos ao ecossistema nem às pessoas.
“As lagoas têm uma representação simbólica importante para Maricá. Recuperar nosso sistema lagunar nos traz a mensagem de que somos todos, poder público e cidadãos, responsáveis por uma vivência harmônica com o meio ambiente”, afirmou o prefeito Fabiano Horta.
Alunos da rede municipal de Maricá lançaram na lagoa os bioinsumos para marcar o início do processo de revitalização.
“A cidade vai continuar investindo em pesquisa, em desenvolvimento e no entendimento de que o nosso papel é fazer uma sociedade que respeite o ser humano e a natureza e trate a vida como valor essencial”, completou o prefeito.
Prefeitura construiu Biofábrica para produção dos bionsumos
A biofábrica fica no bairro de São José do Imbassaí. Os bioinsumos produzidos ali são lançados na lagoa para “orquestrar” e organizar os microrganismos já existentes no sistema lagunar. Em formato de bolas sólidas ou em líquido, destroem os resíduos (lixo orgânico) nas lagoas.
“As lagoas são todas interligadas, e o tratamento é global. O ataque imediato com os bioinsumos na Lagoa de Araçatiba já vai desencadear o tratamento nas outras, porque Araçatiba interfere diretamente nas demais, formando um círculo virtuoso”, informou o presidente da CODEMAR, Olavo Noleto.
Como funciona o processo
O ecossistema local reúne uma parte de microorganismos bons, uma parte de nocivos e outra de neutros. Os bioinsumos vão potencializar os microorganismos neutros, ‘treinando-os’ para que trabalhem junto com os positivos, resultando na revitalização progressiva do ecossistema.
Os dejetos das lagoas serão, então, transformados em novos resíduos, e estes servirão de alimento para peixes, camarões e pássaros, reativando a cadeia local.
Pesquisador da UFF: rios vão virar estações de tratamento
O coordenador do programa Lagoa Viva pela UFF, o pesquisador Estefan Monteiro da Fonseca, especialista em geoquímica ambiental, explicou que, até chegar à lagoa, as águas dos rios já serão tratadas.
“O que vamos fazer é transformar os rios em estações de tratamento. Para isso, usamos pequenas matrizes, em formato de bolas ou tijolinhos de lama, mais o melaço, que não estraga, e os microrganismos. Esses microrganismos estão ‘dormindo’, e em contato com o melaço ‘acordam’ (o que chamam tecnicamente de “ativação”) e começam a “trabalhar”, disse, destacando o processo inteiramente sem química.
O professor detalhou o procedimento:
“Lançamos as bolas repletas de microrganismos na lagoa e, a partir daí, sempre que a água com esgoto ou dejetos passar pelo rio, já levará esses microorganismos para a lagoa. Portanto, ao longo do ciclo, os rios já serão tratados e, chegando à lagoa, haverá uma autodepuração.”
Durante todo o tempo de estudo, os pesquisadores da universidade analisaram o bioma local e desenvolveram diferentes cenários para os lançamentos dos microrganismos, sejam para os períodos pós-chuva, pré-chuva e para tratamentos de choque que venham a ser necessários. É um modelo calibrado para as condições encontradas em Maricá, para oferecer as respostas mais eficientes e sustentáveis.
Ministério da Agricultura, Ibama e Anvisa aprovaram
A técnica dos bioinsumos a ser utilizada em Maricá já foi analisada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento; pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama); e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Tem registros e licenças de todos esses órgãos, que comprovaram ausência de riscos para o meio ambiente.
No Japão, onde foi criada, a técnica é largamente difundida no saneamento de cidades pequenas, que em casos particulares utilizam somente esse método para o tratamento do esgoto. E até com certa sofisticação: a depuração da água ocorre quando ela sai dos canos das casas. Assim que a pessoa aciona a descarga, um pó com microorganismos é atirado na água, que já começa a ser tratada, de maneira natural e sem química, naquele instante.
Investimento e primeiros resultados
O investimento da Prefeitura no programa Lagoa Viva é de R$ 16 milhões, parte de um conjunto de projetos de Maricá com a UFF que totalizam cerca de R$ 60 milhões. A estimativa dos pesquisadores é de que a revitalização comece a apresentar os primeiros resultados num prazo de seis meses.