Após a Secretaria Municipal de Saúde autorizar a retomada do público em jogos nos estádios da cidade, especialistas em saúde divergem sobre a liberação. Nesta quarta-feira, o secretário de saúde do município, Daniel Soranz, disse que confia nos protocolos propostos pelo Flamengo para a volta da torcida ao Maracanã, no dia 15. Segundo o líder da pasta, os eventos serão “livres de covid”.
“Acho um pouco precipitado, pode se aguardar um pouco mais. Principalmente, porque esse tipo de definição acaba mandando para a população uma mensagem de que tudo já está bem e pode ser contornado, quando na verdade ainda precisamos, e muito, do cuidado, do uso de máscara o tempo todo, de evitar aglomerações e de avançar na cobertura da vacina. Esta última que tem sofrido com interrupções devido a questões burocráticas”, pontuou a pesquisadora em Saúde e membro do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ, Chrystina barros.
Para a especialista, as autoridades vêm tendo dificuldades para fazer cumprir e fiscalizar determinações em outras situações, como é o caso dos transportes, o que gera ainda mais dúvida quanto ao momento escolhido. Dados divulgados no Painel Rio Covid-19 indicam que a cidade tinha 709 pessoas internadas com covid-19 em unidades da rede municipal, até esta quarta-feira. A ocupação dos leitos de enfermaria e UTI, destinado a pacientes com sintomas graves da Covid, estava em 63%.
“A intenção da Prefeitura é realizar os chamados eventos testes. Mas é importante a gente se perguntar o que está sendo testado. É claro que aqui o objetivo é verificar se a cobertura vacinal, os procedimentos de entrada no evento, o próprio comportamento das pessoas e as condições de execução vão atender aos critérios de retornarmos com segurança a esse tipo de evento. Entretanto, a gente vê que por mais que até hoje a prefeitura, o estado, os órgãos públicos tenham colocado regras, nós pouco vemos efetividade, inclusive na fiscalização. Ainda existe, sem dúvida nenhuma, um momento muito delicado da alta transmissão da variante delta, apesar do número de casos estar em queda, ainda em números altos com elevado registro de mortes”, disse.
O médico sanitarista da UFRJ Edmilson Migowisk, contudo, acredita que o momento atual é de fazer testes como o proposto para a volta dos públicos nos estádios.
“Eu acho que o momento é realmente de discutir a flexibilização. Um percentual expressivo da população do Rio de Janeiro com uma dose ou duas doses, além de um grupo começando a tomar a terceira dose. A minha estimativa é que 30% a 40% ou até mais, metade do Estado do Rio, já deve ter tido a covid-19. Pode ter de novo? Pode! Mas a tendência é ter uma Covid-19 de menor agressividade”, explicou o especialista.
Em entrevista ao RJ1, da TV Globo, nesta quarta-feira, o secretário Daniel Soranz disse que o protocolo proposto pelo Flamengo foi aprovado pelo comitê científico do município e prevê uma proteção de três fatores.
“Se a gente não fizer eventos com segurança, com protocolos, a gente vai ficar vendo manifestações na praia, festas clandestinas e pessoas fugindo de todo o tipo de controle”, disse o secretário.
Desafio
Mais cedo, o prefeito Eduardo Paes já havia acenado positivamente para a realização das partidas com a presença da torcida no Maracanã. O gestor, contudo, disse que o problema da retomada será o entorno do estádio. “O desafio continua sendo o entorno do estádio, que é um desafio nosso de todos os dias” declarou Paes.
O prefeito também mencionou a partida realizada pelo Flamengo, com 10% de público, em julho, que teve aglomerações no entorno do Maracanã e fraudes nas testagens de alguns torcedores. Paes admitiu falha nos protocolos daquela ocasião.
“Teve um grande erro no jogo de julho que foi o de ter liberado muito em cima. Então, está se fazendo com antecedência, permitindo ao Flamengo, por exemplo, que identifique os laboratórios que vão fazer as testagens. A gente viu no jogo lá atrás que até fraude no teste teve. Então, dessa forma a gente entende que essa questão de estádio está resolvida”, explicou.